As Tensões entre Fé Cristã e Trabalho

     Expressões como: ‘Não tem como ser cristão no trabalho’; ‘Meu trabalho secular’; ‘Capitalismo selvagem’; ‘Selva de pedra’; ‘Manda quem pode obedece quem tem juízo’, são algumas, dentre muitas, que retratam percepções que pessoas (cristãs, inclusive) têm com respeito à sua vida profissional e ao mercado de trabalho. Para tantas outras, o trabalho não passa de ‘castigo divino por causa do pecado de Adão’ (mal sabem ler Gênesis, onde a ordem para o trabalho [cultivo do jardim] foi dada antes do pecado). 

    A tensão é real, não insolúvel. Para resolvê-la, precisamos de uma percepção correta: 

  1.    Da vida, cuja expressão está, invariavelmente, diante de Deus – esta foi a consciência e motivação do rei Ezequias em todo o processo de rompimento com o paganismo instaurado por seu pai, Acaz, em Israel, bem como na restauração da espiritualidade e verdadeira adoração a Deus pelo povo (2 Cr 31.20,21); 

  2.    Do cristianismo e, portanto, da fé – não podemos reduzir o cristianismo a atitudes e/ou eventos departamentalizados, desconectados uns dos outros, vivendo este cristianismo em determinados momentos e não em outros, como uma área ou experiência à parte das demais. A fé, muito antes de ser um ato, é a expressão de nossa crença, confiança e dependência para com Deus e tudo quanto Ele projetou para nós em Cristo Jesus (Ef 2.1-10). Por isso, o trabalho é mais uma esfera da vivência humana em que a fé deve ser o pressuposto a partir do qual todo nosso ser, nosso ter e nosso fazer são expressos e praticados. Seria, então, fé no trabalho, não versus ou à parte; 

  3.    Do trabalho – ainda que trabalhando para uma organização ou alguém, é a Cristo que estamos servindo (Cl 3.22-25). Ele é a razão primária, unificadora e última de tudo quanto fazemos nesta vida, inclusive quando trabalhamos. 

   Em Cristo Jesus, nosso status, ou a maneira como Deus nos vê, é de cristãos profissionais, não o inverso. O que nos qualifica diante de Deus não é a função sócio-econômica-profissional que temos neste mundo, mas o relacionamento que desenvolvemos com Ele através de Cristo Jesus, independente de tal função. 

 Por esta causa, por mais tensa ou complexa que seja a vivência da fé cristã no trabalho, é justamente este compromisso com Cristo que suportará todo o restante da dinâmica e esferas de nossa vida, inclusive a profissional, especialmente porque somos desafiados a fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31). 

 Se esta dinâmica já é difícil sendo nós cristãos, imagine se abrirmos mão deste relacionamento com Deus para vivermos no mundo à nossa própria maneira. Se tornaria simplesmente insustentável. 

 Em Cristo e por Cristo, vivendo a fé cristã em meu trabalho, 

            Pr, Hélder Cardin – Boletim IEBNA 28.06.15